sábado, 15 de outubro de 2011

DISCURSO DE STEVE JOBS PARA OS FORMANDOS DE STANFORD

Muito obrigado. Estou honrado de estar com vocês nesta cerimônia deuma das melhores universidades do mundo. À bem da verdade, eu nuncame formei em uma, e esta é a oportunidade em que cheguei mais pertode uma graduação.
Quero hoje contar três histórias de minha vida. Apenas isto. Nada de
muito grande. Apenas três histórias. A primeira é sobre conectar ospontos. Eu abandonei o curso na Universidade Reed College depois deseis meses de estar lá, mas fiquei pelos entornos uns dezoito mesesmais, antes de realmente abandonar tudo. Porque abandonei os estudos?
Isso se inicia desde an
tes de eu nascer. Minha mãe biológica era umaestudante jovem e solteira e ela decidiu que eu deveria ser adotado.Impôs como condição que eu fosse adotado por pessoas graduadas emcurso superior, de tal modo que as coisas estavam arranjadas para queum advogado e sua esposa me adotassem. Mas quando eu nasci, elesdecidiram na última hora que na verdade desejavam uma menina. Entãomeus pais, que estavam em uma fila de espera, receberam uma chamadatelefônica no meio da noite: “Temos um menino que não era esperado.Vocês o querem?” Ao que eles responderam “Naturalmente”.
Minha mãe biológica descobriu mais tarde que minha mãe não havia
completado faculdade e meu pai nem o secundário. Ela se recusou aassinar os papeis definitivos de adoção. Aliviou-se apenas quandomeus pais prometeram que me fariam entrar para a universidade. Assimfoi o início da minha vida. E 17 anos depois eu realmente entrei numauniversidade, mas ingenuamente escolhi uma universidade que era quasetão cara quanto a Stanford. Todas as economias de meus pais operáriosestavam sendo usadas no pagamento de meus estudos. Depois de seismeses eu não conseguia ver valor nisso.
Eu não tinha idéia do que eu
desejava fazer na vida e menos ainda em como a universidade me iaajudar a encontrar meu rumo. Ali estava eu, gastando todo o dinheiroque meus pais tinham economizado numa vida inteira. Decidiinterromper, confiando que tudo se arranjaria. Na época foiassustador, mas olhando para trás, foi uma das melhores decisões quejamais tenha tomado. Uma vez tendo interrompido, pude parar de ir aaulas que não me interessavam e passar a ir naquelas que me pareciammais interessantes.
Não foi nada romântico. Não tinha um dormitório, daí ter que dormir
no chão do quarto dos amigos. Recolhia as garrafas de Coca-Cola paraganhar os cinco cents pagos pelo retorno delas, comprando comida comeles. Caminhava sete milhas (cerca de onze quilômetros) atravessandoa cidade todo domingo a noite para conseguir uma boa janta por semanano templo Hare Krishna. Adorava isso. Muito daquilo em que topei porsegui a minha curiosidade e intuição resultou ser extremamenteprecioso mais tarde.
Deixem eu dar um exemplo:
O Reed College naquele tempo oferecia talvez o melhor curso de
caligrafia do pais. Por todo o campus, cada pôster, cada rótulo emcada gaveta era lindamente escrito à mão. Por haver abandonado ocurso regular, decidi tomar aulas de caligrafia e aprender a fazeraquilo. Tomei conhecimento da existência de tipos com serifa e semserifa, de espaços variáveis entre as diferentes letras, o que fazuma grande tipografia, grande. Era lindo, histórico, artisticamentesutil, de um modo que a ciência na percebe e achei tudo fascinante.
Nada disso tinha sequer uma chance de aplicação prática em minha
vida. Mas dez anos depois, quando estávamos fazendo o design doMacintosh, tudo me veio à mente, e pusemos tudo isso no Mac. Foi oprimeiro computador com tipos bonitos. Se eu não tivesse caídonaquelas salas de aula, o Mac possivelmente não teria múltiplasfamílias de tipos e fontes com espaçamento proporcional. Como oWindows simplesmente copiou o Mac, provavelmente nenhum computadorpessoal as teria hoje em dia.
Se não tivesse interrompido os estudos,
não teria cursado aulas de caligrafia e os computadores pessoais nãoteriam as diversas fontes que hoje possuem. É evidente que seriaimpossível ligar os pontos olhando para diante quando estava nauniversidade, mas era muito, muito claro ao olhar para trás dez anosdepois. Repetindo, não se pode conectar os pontos olhando paradiante. Só se pode conectar olhando para trás, de onde é preciso quevocê confie que os pontos de algum modo vão se conectar no seufuturo. Você tem que acreditar em alguma coisa — em seu taco,destino, vida, carma, qualquer coisa — porque acreditar que ospontos irão se conectar ao longo da estrada dá a você a confiança deseguir o seu coração, mesmo que ele o leve para fora do caminho maistrilhado e isso mesmo é que faz toda a diferença.
Minha segunda história é sobre amor e perda. Tive sorte em achar cedo
na vida aquilo que gostaria de fazer. Woz (Steve Wozniak) e euiniciamos a Apple na garagem da casa de meus pais quando eu tinhavinte anos de idade. Trabalhamos duro, e em dez anos, a Apple cresceudos dois que éramos em uma garagem, para uma companhia de doisbilhões de dólares e mais de quatro mil empregados.
Tínhamos lançado nossa melhor criação, o Macintosh, um ano antes,
atingia os meus trinta anos e então fui despedido. Como se pode serdespedido de uma companhia que se fundou? Bem, na medida em que aApple crescia, empregamos alguém que pensávamos que era muitotalentoso, para me auxiliar a dirigir a companhia, e as coisascorreram bem durante o primeiro ano. Então nossas visões de futurocomeçaram a divergir e eventualmente chegamos a um impasse.
Ness
e momento o “Board of Directors” apoiou a ele e eu me vi posto na rua ede um modo bastante ruidoso. O que tinha sido o foco de minha vidaadulta desapareceu e o efeito foi devastador. Realmente não sabia oque fazer por alguns meses. Sentia haver decepcionado a geração quehavia confiado em mim, perdendo o bastão quando ele me era passado.
Encontrei David Packard e Bob Noyce e tentei me desculpar por havê-
los traído tão seriamente. Foi um fracasso público e cheguei a pensarem fugir do (Silicon)Valley. Mas alguma coisa começou lentamente asurgir dentro de mim. Ainda gostava do que fazia. As mudanças naApple não mudaram um bit disso em mim. Tinha sido rejeitado mas aindaestava apaixonado. Decidi recomeçar.
Na época não percebi, mas ter sido despedido da
Apple foi o melhorque me poderia ter acontecido.O peso de ter sucesso foi substituído pela leveza de ser iniciantenovamente, com menos certezas a respeito de tudo. Isso me liberoupara entrar em um dos períodos mais criativos de minha vida. Duranteos cinco anos seguintes iniciei uma companhia chamada NeXT, outrachamada Pixar, e me apaixonei pela maravilhosa mulher que veio a setornar minha esposa. Pixar criou o primeiro longa metragem poranimação computadorizada, Toy Story, e é atualmente o estúdio deanimação de maior êxito no mundo.
Numa notável mudança de rumos, Apple comprou a NeXT e retornei à
Apple. A tecnologia que desenvolvemos na NeXT está no âmago docorrente renascimento da Apple e Laurene e eu construímos uma famíliamaravilhosa.
Estou seg
uro de que nada disto teria acontecido se eu não tivessesido despedido da Apple. Foi um remédio amargo, mas penso que opaciente necessitava dele. As vezes a vida te acerta na testa com umtijolo. Não perca a fé. Estou convencido de que a única coisa que memantinha funcionando era a convicção de que amava o que fazia. Sevocê não encontrou ainda, mantenha-se atento e não esmoreça. Como emtodas as coisas do coração, você saberá quando encontrar, e comoqualquer grande relacionamento, ele só ficará melhor e melhor namedida em que passem os anos. Mantenha-se olhando. Não afrouxe.
Minha terceira história é sobre morte. Quando tinha 17 anos, li uma citação
que dizia algo como: “Se você viver cada dia como se fosse seuúltimo, em algum dia com certeza você estará certo”. Isto me causouum forte impressão, e desde então, nesses trinta e três anos, olho noespelho a cada manhã e me pergunto: “Se este for o último dia deminha vida, desejaria fazer o que vou fazer hoje?” E sempre que aresposta é “não” por uns quantos dias de enfiada, sei que é hora defazer alguma mudança.
Lembrar que vou morrer proximamente é a coisa
mais importante que encontrei para fazer as grandes escolhas da vida,por que todo o mais, — todas as expectativas externas, todoorgulho, todo medo de constrangimentos ou fracassos – nada dissoimporta diante da morte, deixando apenas o que é realmenteimportante. Lembrar que algum dia você vai morrer é a melhor maneirade evitar a armadilha de pensar que você tem alguma coisa a perder.
Você já está
pelado. Não há razão para não seguir seu coração. Há umano atrás diagnosticaram que eu tinha um câncer. Fiz uma ecografia as7:30 da manhã e ela mostrou claramente um tumor em meu pâncreas. Eusequer sabia o que era um pâncreas. Os médicos me advertiram quequase certamente esse era um tipo de câncer incurável, e que deviater uma expectativa de vida de não mais do que três a seis meses.
Recomendaram-me que fosse para casa por as coisas em ordem, o que é
um código deles para “prepare-se para morrer”. Implica em dizer paraas crianças em poucos meses tudo o que pensavas ter dez anos paradizer. Implica em organizar tudo de modo a tornar mais fácil ascoisas para sua família. Significa dizer adeus para os teus.
Vivi com esse diagnóstico o dia todo. Mais adian
te, naquela tarde,foi feita uma biópsia em que me enfiaram um endoscópio guela abaixo,através do estômago e intestino, cravaram uma agulha em meu pâncrease retiraram alguma células do tumor. Eu estava sedado, mas minhamulher, que lá estava, contou-me que quando viram as células aomicroscópio os médicos começaram a gritar, porque se tratava de umtipo muito raro de câncer pancreático que era curável por cirurgia.Fiz a cirurgia e, felizmente, estou bem agora.
Foi o mais perto que estive de encarar a mor
te e espero que seja amais próxima que tenha estado por algumas décadas mais. Tendo passadopor isto, posso dizer agora para vocês com um pouco mais de certezado que quando a morte era um conceito útil, mas apenas puramenteintelectual: Ninguém deseja morrer. Mesmo as pessoas que desejam irpara o céu não querer ter que morrer para ir para lá, e no entanto amorte é o destino que todos nós partilhamos. Ninguém jamais escapoudela. E assim é que deve ser, porque a morte é provavelmente a melhorinvenção singular da vida. É o agente de mudança da vida, desfaz dovelho para abrir lugar para o novo. Neste momento, o novo são vocês.
Mas em algum dia não muito distante vocês gradualmente vão se
tornando o velho e serão descartados. Desculpem que seja tãodramático, mas é a verdade. O tempo de vida de vocês é limitado,portanto não o desperdicem vivendo a vida de outrem. Não se deixemprender por dogmas, que é viver com os resultados do pensar deoutros. Não permitam que o ruído das opiniões alheiras afogue a vozinterior de vocês, e, mais importante, tenham a coragem de seguir seupróprio coração e intuição. Eles de alguma maneira sabem no que vocêsrealmente querem se tornar. Tudo o mais é secundário.
Quando eu era jovem, havia uma publicação interessantíssima ch
amada“Catalogo de toda a Terra” que era uma das bíblias de minha geração.Foi criada por um cara chamado Steward Brand não longe daqui, emMenlo Park, trazida à vida com seu toque poético. Isso ocorreu nosanos 60, antes de computadores pessoais e desktop publishing, logoera feito com maquinas de escrever, tesouras e câmaras Polaroid. Eraalgo tipo Google em papel, 35 anos antes de haver Google. Eraidealístico, cheia de belas ferramentas e grandes noções. Steward eseu time lançaram alguns numero dessa Whole Earth Catalog e quandoacharam que tinha chegado, lançaram um numero final. Estávamos emmeio aos anos 70, nossa era. Na última capa desse numero final haviauma fotografia de um amanhecer numa estrada de interior, do tipo emque vocês estariam trilhando se fossem um pouco aventurosos.
Abaixo dela as palavras:
“Mantenha-se faminto, mantenha-se ingênuo”. Era o
adeus deles, sua assinatura. “Mantenha-se faminto, mantenha-seingênuo”.
Sempre tenho desejado isso para mim mesmo, e agora, como
vocês que graduam estão começando vida nova, desejo então para vocês. “Mantenham-se famintos, mantenham-se ingênuos”.
Muito obrigado.

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